Dados do Censo 2022 enfraquecem tese de que terreiros estão mais brancos
- Anna Virginia Balloussier e Natália Santos
- 16 de jul.
- 2 min de leitura
Por: Anna Virginia Balloussier e Natália Santos

Os terreiros estão ficando mais brancos?
Resposta curta: não.
Vamos à mais longa agora.
Essa tese ganhou tração nos últimos anos, acompanhada de imagens de pessoas de pele clara no Dia de Iemanjá em Salvador, ou saudando algum orixá nas redes sociais.
Os dados do Censo 2022, contudo, não corroboram essa impressão. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a participação de brancos em religiões afro-brasileiras retraiu do recenseamento feito em 2010 ao mais atual, indo de 46,7% para 42,9% da população acima de 10 anos. A maior parte, portanto, é negra, somando pretos (23,2%) e pardos (33,2%).
Isso num contexto em que as pessoas de 10 anos ou mais que se consideram brancas, na população geral, eram 48% em 2010, passando para 43,4% em 2022. Para a análise, foi usado o recorte de 10 anos ou mais para se alinhar com a mesma abordagem usada no recorte que o IBGE faz de religiões.
A divulgação desse último levantamento demográfico apresentou seis grupos religiosos: católico (56,7%), evangélico (26,9%), espírita (1,8%), tradições indígenas (0,1%) e umbanda/candomblé (1%). O resto é empacotado como "outras religiosidades" (4%), fora os "sem religião" (9,3%).
De todas essas, as afro-brasileiras tiveram o maior crescimento proporcional entre 2010 e 2022, tendo o número de adeptos triplicado, passando agora para 1,8 milhão de brasileiros.
O próprio IBGE faz o disclaimer de que, além de não discernir umbanda de candomblé, essa categoria abrange mais religiões de matriz africana — há outras de menor calibre estatístico, como o catimbó, baseado numa planta com propriedades psicodélicas utilizada há séculos por populações negras e indígenas e descrito pelo colunista da Folha Marcelo Leite em "A Ciência Encantada de Jurema".
Ressalva feita, o Censo 2022 mostra que as religiões de raiz afro estão em 73,1% dos municípios do país, um salto em relação a 2010, quando foram citadas em 28,7% das cidades.





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