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FAMÍLIA CELEBRA PRIMEIRO BEBÊ PITAGUARY A LEVAR O NOME DA ETNIA INDÍGENA NA CERTIDÃO DE NASCIMENTO: 'DAR CONTINUIDADE À LUTA'

Por: Gabriela Feitosa, G1 CE


Segundo a família, registro de Heine Kayan Agostinho Vieira Pitaguary marca conquista simbólica para o povo Pitaguary, que luta por reconhecimento e preservação cultural.


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Embalado ao som de um toante, música que rege o toré (manifestação sagrada presente em diversas etnias indígenas do Brasil), o pequeno Heine Kayan Agostinho Vieira Pitaguary dorme tranquilo nos braços de seu pai, o professor Madson Vieira (veja o vídeo acima).

Heine nasceu no dia 16 de outubro e já cumpre uma bonita missão: de acordo com a família, ele é o primeiro bebê indígena a ser registrado oficialmente com o nome da etnia a qual pertence, a Pitaguary.

A mãe Jennifer Agostinho celebra o feito, que para a comunidade é sinônimo de resgate da história e fortalecimento da identidade Pitaguary: "É um orgulho. Ele se identifica como Pitaguary, já está no sangue dele. Ele vai ter como levar isso para outras gerações. A partir dele, todo mundo vai ter esse sobrenome", conta Jennifer, emocionada.

O povo Pitaguary é uma etnia indígena do Ceará que vive principalmente nos municípios de Maracanaú, Pacatuba e Maranguape. É o caso de Heine Kayan e seus pais, que moram em Maracanaú.


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O menino nasce em um momento importante para seu povo, já que eles aguardam a demarcação da Terra Indígena Pitaguary, homologada pelo Governo do Ceará e o Governo Federal em agosto deste ano.

Para registrar a criança com o sobrenome Pitaguary, o pai relata ter sofrido alguns entraves. A ideia surgiu de uma vontade da família em ensinar para Heine que, desde pequeno, ele pertence a uma tradição:


"A gente estava numa maternidade que tem a filial aqui de Maracanaú, o Cartório Braga. Eles não tiveram essa assistência, foram bem perdidos. Ficaram pedindo documentos que não mais utilizados, como o RANI (Registro Administrativo de Nascimento de Indígena). Então, eles encaminharam o Madson para a matriz do cartório mesmo e lá eles conseguiram desenrolar", detalha Jennifer Agostinho.

💡 Entenda: Após mudança nas regras, hoje é possível incluir no nome indígena a etnia, o grupo e a família a que a pessoa pertence.

Jennifer é artesã e comunicadora indígena, já Madson é professor e trabalha na escola indígena Ita-Ará. Eles se conhecem desde crianças e em 2021 retornaram o contato, quando começaram a namorar. Juntos, o casal realiza um trabalho de resgate da cultura indígena e divulgação da tradição nas redes sociais e dentro da comunidade.

A ideia é falar sobre suas histórias sem estereótipos, com humor e orgulho. Segundo a família, um dos grandes desafios enfrentados pelo povo Pitaguary no Ceará é - além da demarcação das terras - a continuidade de sua língua materna, o Nheengatu.


Em meio a um cenário de constantes transformações e ameaças, o povo Pitaguary reafirma sua luta por reconhecimento e território. Ao g1, Madson Vieira destacou a importância de garantir que as futuras gerações cresçam com consciência de sua identidade e história.

Nesse contexto, registrar o pequeno Heine Kayan com o sobrenome de seu povo é mais do que uma formalidade, é garantir a continuidade da presença da etnia no Ceará: "A ideia é agregar o nome do nosso povo, dar continuidade à luta e reafirmar a presença do povo aqui. A gente não sabe como vai ser daqui a 20, 30, 40 anos. Tudo muda, está em transformação”.


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E o primeiro ensinamento a ser repassado para o pequeno Pitaguary já está anotado:


"É que ele se reconheça, se reafirme enquanto indígena, que ele não deixe se levar pelo acesso fácil à cultura do branco. Eu estava até brincando e dizendo que logo quando ele fizer um ano vou estar levando ele para a escola, para que ele possa estar naquela vivência dentro e reconhecer a nossa dinâmica", comentou o pai.

No Ceará, foram identificadas 51 línguas indígenas declaradas por pessoas de 5 anos ou mais de idade. O estado também teve 140 etnias declaradas. Deste total, 15 etnias estavam situadas dentro de terras indígenas. Os dados são do Censo 2022 e foram divulgados nesta sexta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para o IBGE, as etnias são caracterizadas como comunidade humana definida por afinidades linguísticas, culturais e sociais. Também são considerados os conjuntos de pessoas que se caracterizam por uma cultura e forma de vida social própria.


O nheengatu, considerado uma das línguas gerais dos povos indígenas no Brasil, é a língua indígena com maior número de falantes no Ceará, segundo o IBGE. As línguas indígenas de origem Tupi são as mais faladas no Ceará, totalizando 437 falantes, com destaque para o Nheengatu (200 falantes) e o Tupi-Potiguara (98 falantes).

De 2010 a 2022, a quantidade de falantes do nheengatu no Ceará passou o número de pessoas que falavam a língua tremembé. O levantamento se baseia nos dados do Censo 2022.

Usado por dezenas de povos indígenas antes e durante a colonização europeia no Brasil, o nheengatu é falado por 13 mil pessoas no país (confira trecho no vídeo acima). Deste total, 40,29% dos falantes declararam residir em terras indígenas.

O nheengatu aparece entre as línguas indígenas com maiores números de falantes no Brasil. Confira a lista:


  • Tikúna

  • Guarani Kaiowá

  • Guajajara

  • Kaingang

  • Xavante

  • Yanomami

  • Sateré-Mawé

  • Nheengatu

  • Munduruku

  • Tukano


Também chamado de língua geral amazônica (LGA), o nheengatu é considerado o único idioma vivo descendente do tupi antigo, com falantes no Brasil e na Colômbia.


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